terça-feira, 22 de novembro de 2011

A Farsa do ENADE e a Postura do Centro Acadêmico de Serviço Social

Em virtude de alguns comentários em relação a NOTA 3 do Serviço Social da UFMA em relação ao ENADE gostariamos de socializar as razões de tal nota. Primeiro dizer que tal nota se deu em virtude do Serviço Social da UFMA e da maior parte das Federais terem aderido ao boicote ao ENADE, o boicote foi uma politica tirada pelo Fórum Nacional de Executivas e Federações de Cursos (FENEX) e amplamente divulgado e defendido pelo Conjunto CFESS, ENESSO e ABEPSS, inclusive com a emissão de vários documentos.
Tal postura se deu em virtude da contestação ao modelo de avaliação adotado pelo governo o - SINAES - Sistema Nacional de Avaliação do Ensino Superior, que deveria avaliar as Instituições de Ensino desde sua estrutura, à qualificação do corpo docente, técnico e Discentes. Contudo o peso desta Avaliação recai basicamente sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes - ENADE, incluindo uma série de sansões e, oportunamente contendo um caráter punitivo às instituições que obtivessem notas baixas, contudo desconsiderando questões como regionalidade e a própria estrutura das universidades públicas, o objetivo fundamental é criar um ranking das universidades em uma lógica mercadológica à educação.
Tendo em vistas todos estes processos que levavam à uma inversão ilógica não apenas no processo da Avaliação, mas também no próprio sentido mais estrutural/conjuntural da Universidade como um todo é que como ato político se resolveu adotar o BOICOTE, numa perspectiva de em primeiro lugar dizer que não concordamos com essa avaliação verticalizada e em segundo o de chamar a atenção do INEP-MEC para que o mesmo avalie de forma integrada o curso em todas as suas dimensões, não apenas o corpo discente.
Todo esse debate foi travado junto ao conjunto de estudantes de Serviço Social e puxado pelas demais executivas e federações de curso. NO Serviço Social, o debate foi travado de forma bem tranquila com todos que iriam fazer o ENADE, foram apresentados os Prós e os Contras e feitas as defesas e contestações dos mesmos.
É acalorada a discussão sobre o ENADE, principalmente nas instituições onde alguns cursos obtiveram nota baixa. Como todos sabem, o ENADE é “O Exame Nacional de Desempenho de Estudantes [...] tem o objetivo de aferir o rendimento dos alunos dos cursos de graduação em relação aos conteúdos programáticos, suas habilidades e competências.” (INEP, 2010). Contudo, o que poucos sabem, é que o ENADE é uma avaliação incompetente para avaliar o que ele mesmo propõe.
Primeiramente, as provas do ENADE são iguais para todas as regiões do país, ou seja, um curso de Serviço Social, por exemplo, do extremo norte do Brasil, vai ser avaliado da mesma forma que um curso de Serviço Social da Região Sudeste. Ou seja, a avaliação não leva em consideração as diferenças regionais. Isso é grave, pois engessa as escolas, impedindo-as de criarem seus currículos de acordo com as demandas regionais. Os currículos, por causa do ENADE, passam a ser elaborados não para atenderem as demandas regionais, mas sim para tornarem possível uma boa nota na prova.
Outro ponto: as provas só avaliam o desempenho dos estudantes, não avaliam a estrutura da faculdade, os professores, enfim, outras variáveis que poderiam contribuir para a boa qualidade ou má qualidade do curso. Além disso, por exigirem de forma tirana a participação dos estudantes, acaba por provocar boicote às provas, o que prejudica o conceito final que é utilizado para medir a qualidade dos cursos avaliados — o boicote às vezes nem é organizado, mas atos isolados de boicote prejudicam sobremaneira a conceituação do curso.Agora um dos pontos mais graves: algumas instituições utilizam a nota do ENADE para fazer marketing, ou seja, utilizam o conceito obtido na avaliação para fazer propaganda de seus cursos.
Como esse método de avaliação não é hábil para avaliar a boa qualidade de cursos, ele contribui ainda mais para a mercantilização da educação, uma vez que torna possível o uso de resultados duvidosos para fomentar a venda de cursos de graduação — venda sim, pois muitas instituições particulares de ensino superior funcionam como verdadeiros shoppings de cursos: fazem propagandas bonitinhas cheias de gente sorrindo, criam panfletos bem elaborados, investem em campanhas de marketing etc. Assim, a maior preocupação não é a boa qualidade dos cursos, mas sim a quantidade — buscam angariar o maior número de estudantes (consumidores) possível.Outro ponto também grave: as instituições, para não obterem um conceito baixo no ENADE, deixam de se preocuparem com o ensino, com a missão de preparar um profissional que seja capaz de pensar e produzir conhecimento.
As instituições então se preocupam em preparar os estudantes para a prova do ENADE, e fazem isso aplicando provas ridículas — durante o semestre letivo — com uma autoridade despótica, buscando com isso tornar o estudante apto para encarar esse exame. Dessa forma, apenas produzem um profissional que sabe fazer prova. — também, já ouvi falar que algumas instituições criam cursos preparatórios para o ENADE, não sei se isso é verdade, mas do jeito que as coisas estão...
Além desse problema, as instituições, por causa dessa posição despótica e marketeira, tornam o estudante um sujeito mudo, medroso, pois ele tem medo de contestar alguma coisa — contestar professor, discordar dos métodos de avaliação etc. — e então “tomar pau” nas disciplinas e demorar ainda mais para se formar. As instituições então, por meio de suas “aulas de instrução para fazer ENADE”, apenas ensinam “como fazer uma prova razoável e não contribuir para a nota do ENADE se tornar um pavor para reitores e coordenadores de curso”. Além disso:
As aulas, geralmente oferecidas por professores que apenas dão aula, reproduzem, neste gesto ordinário, alunos que, em vez de aprenderem a reconstruir conhecimento com devida autonomia, sucumbem à cópia da cópia.
Os estudantes chegam ao fim do curso muito despreparados até mesmo para serem “recursos humanos”, porque não atendem às expectativas de inovação e mudança da sociedade e também da economia. (DEMO, 2004, p.49).
Ou seja, as instituições formam então papagaios que só repetem o que outros dizem, pessoas que só sabem reproduzir a cópia que o professor lhes apresentou — uma cópia que já era também cópia, pois o professor muitas vezes não produz material, mas apenas repete o que um ou outro autor disse.Assim, caminha a educação superior no nosso Brasil. E assim segue nosso governo míope, que, ao invés de desenvolver um método de avaliação eficiente, produz uma aberração que contribui ainda mais para a mercantilização e piora da qualidade do ensino brasileiro. É preciso avaliar o ensino superior de forma eficiente e inovadora.
O que o ENADE faz não é avaliar, é esconder a verdadeira face do ensino superior no Brasil. E, aos estudantes: é preciso lutar para mudar a forma de avaliação do ensino superior, afinal, os estudantes são as pessoas que gastam tempo (e dinheiro também) de suas vidas sendo vítimas de toda essa perfídia.
Esta decisão, portanto não se deu por acaso ou por indicação de um pequeno grupo. Hoje, a lógica do governo é fortalecer o EaD e as instituições privadas, temos que tomar cuidado para não dançar a dança do governo e tornarmos o curso um serviçal apático e acrítico, pura e simplesmente emissor de mão-de-obra ao mercado. Para Além das 5 estrelas da Editora Abril que nos qualifica enquanto um dos melhores cursos do país, temos um projeto ético-político profissional a defender, uma tradição de combatitividade e isso se expressa mais recentemente na conquista da categoria com a luta pelas 30 horas semanais para Assistentes Sociais.
Os processos de conquista e garantia de direitos não se dão de forma tranquila e sem contestação é preciso romper com os grilhões de subserviência e ousar ir além.